Já me desculpo com os entendedores de arte se o que vos digo não passa de um monte de abobrinha, mas como humana tenho direito ao erro e numa democracia tenho direito de expressar minha opinião, que para mim parece bastante plausível .
Para que serve a arte? vos pergunto. E acredito que essa pergunta é feita por diversos filósofos, artistas, cientistas, e por nós meros mortais, que de uma maneira ou de outra experimentamos a arte, seja ao observar uma obra, ao ler um bom livro, ao escrever um poema, ou ao nos aventurar num desenho, numa pintura. Sinto-me no direito de dizer que a arte não pode ser explicada por um cientista, e que talvez um filósofo possa compreender seu sentido e seu significado para a vida humana. Para nós meros mortais, basta sentir, e acredito que nesse aspecto nos aproximamos dos artistas, pois tais, também sentem, porém vão além do que podemos imaginar, eles estudam técnicas, se aperfeiçoam, discutem arte, criam e recriam num processo que pode levar uma vida inteira até atingir a maturidade artística.
Para mim em particular, e para muitos que conheço, o processo que leva um grande artista a ser artista não está ligada somente a sua criatividade e sensibilidade, mas também, e principalmente, à sua capacidade de utilizar as técnicas e aprendizagem artística para recriar um novo contexto de se fazer arte com sua própria inspiração e muita, muita transpiração. É isso que aprendemos com a história dos grandes artistas. A arte tem um contexto, e os artistas participam desse contexto, discutem entre si, aprendem entre si. E para alcançar isso não basta estudar a história da arte, é preciso técnica e prática.
Infelizmente os artistas e a arte pós-moderna pensam diferente de mim, mostrando a arte apenas como um ímpeto criativo que não deve se amarrar a formas e técnicas, utilizando-se somente de sua criatividade e sensibilidade. Mas acreditem ou não a arte é ESTÉTICA, gostem ou não.
A arte não é só emoção e sentimento, também requer estudos, e não apenas um ímpeto rebelde de criar. Uma criação artística não leva um dia, um mês, ou um ano, leva-se uma vida, muitos anos de conhecimento, estudo e aplicação da arte, e isso que é apreendido em sua vida faz parte do processo criativo.
Numa reflexão com Camizão, um grande artista que tive o prazer de conhecer a alguns anos, revelou-se uma realidade que ainda não havia percebido.
- Nada mais contemporâneo do que esse lixo artístico com que nos deparamos nas galerias. Eles refletem justamente a crise desse mundo pós-moderno. De desarmonia com o mundo, com o corpo e com a mente, nesse emaranhado em que nos encontramos que não tem propósito. A Terra possui uma pulsação que vibra na mesma sintonia que nosso coração, é como se fossemos tudo a mesma coisa, a Terra é uma extensão de nossos corpos, e tudo que fazemos para agredi-la volta-se contra nós, não só na água poluída, mas numa sensibilidade intrínseca que possuímos de sentir o mundo na mesma sintonia do pulsar do coração, ainda não sabemos o que esse sentimento de caos que absorvemos significa, mas toda essa agressão que criamos é repassado e transmitido através da arte.
Eu rio.
- Mas é verdade!
- Rio pela ironia deste mundo. Quer dizer: nada mais contemporâneo do que esse lixo artístico! É desse mundo que eu faço parte, é desse processo de destruição que faço parte. Dessa loucura sufocante e agonizante que não tem sentido. Nesse mundo niilista, que é refletida nessa arte niilista. E a arte é um refugio e uma denuncia anônima, que não tem sentido para quem produz ou reproduz isso. A arte se torna uma válvula de escape em que expressamos essa agonia. Essa arte-lixo é uma denuncia de que o mundo está em crise, de que viver não tem sentido, que estamos destruindo a Terra assim como a nós mesmos.
E em minha agonia me pergunto, para que o mundo produz tanta arte? A arte é um refúgio da alma, não de uma alma divina, mas no sentido filosófico do que dá animo ao ser. Bem, poderia ser a religião, uma paixão, assim como pode ser a arte. Mas o prazer de viver da arte é somente para os que beiram a loucura, pois nada mais abstrato do que ela, você não sabe o porquê, mas ela te alimenta, te satisfaz e te completa. Não é como o amor, pois não te limita e não é como uma religião, pois não te dá uma resposta pronta. A arte é somente para os que beiram a loucura!