sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Doce Salto - Léo Sá


Foto por Léo Sá

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O pagode

Exposição de Lan (LANFRANCO VASELLI) no Centro Cultural Carioca, 2004.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Porque a arte é para ser vivida

Navegar é Preciso

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

(Fernando Pessoas)
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Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

(Fernando Pessoa)

La Valse de Camille Claudel. Bronze, 1895

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Cabo de Guerra

Dividiu-se o mundo, a vida, o ego, a alma e você em dois opostos. Uns do lado direito, ou leste, ou norte, outros do lado esquerdo ou oeste ou sul. Colocaram-se os sentimentos, as qualidades, os defeitos, o mundo, o espírito, o inexplicável, o amor, o ódio, o belo, o feio, o bom e o ruim diante de uma corda de cabo de guerra. Cada qual escolheu um lado, e no meio, milimetricamente medido por alguém ou alguma coisa, marcaram uma linha que dividia o preto e o branco, o masculino e o feminino, a terra e o ar, o frágil e o bruto, a leveza e o peso, a sanidade e a loucura. Depois de todos estarem cada qual em seu devido lugar, alguém ou a coisa que marcou o meio da corda deu o sinal de que o cabo de guerra postasse a começar. Medindo forças, cada qual começou a puxar para seu lado. E a corda se movia para lá e para cá, para cima e para baixo. Às vezes o leste perdia forças e era carregado pelo oeste, assim vice-versa. E dançavam como uma sinfonia de Beethoven. Ora clamo e sereno como uma valsa, ora frenético e perturbador. Numa briga de galos sem fim, em que nenhum lado perdia.
O homem ou a coisa que marcou a linha no meio da corda havia se esquecido de marcar o lugar em que tal linha deveria se encontrar para que algum dos lados se tornasse vencedor ou perdedor. Esqueceu de marcar onde a linha deveria tanger para o fim dessa disputa que se prolonga por dois mil e quinhentos anos. Ora a esquerda estava mais forte fazendo com que a direita se arrastasse para seu lado, assim vice-versa. E continuavam a disputa, exaustos, fartos de toda aquela briga sem lógica e sem fim. Porém, nenhum lado cedia à vitória ou à derrota.
Ansiavam então para que a corda se rompesse e ao menos houvesse um empate, mas a corda era de aço e não arrebentava. As mãos já cansadas sangravam de agonia, mas não era permitido que nenhuma dicotomia pudesse desistir. Era, e é, inadmissível desistir. E por mais que quisessem não saberiam como, suas mãos se viam grudadas na corda de aço. Não saberiam como tirar as mãos da corda, não saberiam o que fazer de suas vidas a não ser puxar para lá e para cá, para cima e para baixo, condenados eternamente neste cabo de guerra. Não teriam o que fazer, não saberiam o que fazer, a não ser segurar a corda com toda força e puxar.
Rangiam dentes, transpiravam, suavam lágrimas salgadas, mas não largavam a corda. Ambos imaginavam que a que a solução seria a corda arrebentar. Isto os livraria do peso da derrota e da leveza da vitória, os livrariam do peso da vida e da leveza da vida. Salvá-los-iam de suas agonias, medos e exaustão. Mas a corda era de aço e não arrebentaria por mais que puxassem por mais dois mil e quinhentos anos. Somente a coisa ou o homem que marcou o meio da corda poderia decretar o fim do jogo. Porém este adormecia mais do que se punha acordado. E quando acorda se punha a beber vinho e se entregar a orgias. Às vezes olhava o cabo de guerra com a boca farta de pão, mas não pensava sobre a solução de tal desastre. Não sabia que cabos de aço não arrebentavam em jogos de cabos de guerra. E não sabia que deveria marcar o fim em que o meio da corda deveria chegar. Então, voltava a dormir e esperar pelo grande dia em que anunciaria a vitória de algum lado sem se preocupar se o norte e o sul se deglutiam em algum lugar do espaço ou dentro de mim.

domingo, 2 de setembro de 2007

O preço do progresso.

Via aquele parafuso gigante penetrar a terra, corrompendo seu cerne, como se perfurasse meus próprios pés. Dilacera a terra e a minha vivacidade num barulho agonizante e incessante. Tão agudo aos meus ouvidos que por mais distante que se encontre é como se estivesse ao meu lado, perfurando meus ouvidos. Faço parte de um fragmento da vida em que tudo muda numa freqüência tão aterrorizadora. Vejo as mudanças tão latentes em meu cotidiano que não há férias que me faça deglutir todo esse imprensamento de meu estomago, de meus olhos, de minhas mãos. Mesmo que feche todas as janelas e portas de minha casa ainda assim ouço aquele martelo e todo aquele barulho de metal se rebatendo em favor do progresso. Cada martelada é um buraco que se abre nas entranhas do solo, cada buraco é mais uma viga que se edifica para que possamos nos espremer no menor espaço possível. Parece-me que está é a idéia: quanto mais gente conseguir habitar o menos espaço possível, melhor! Todo esse metal que trás consigo esse progresso maldito me enche de uma dor vazia como se esse parafuso gigante perfurasse meu crânio e em qualquer instante pudesse sair pelos meus pés. Mas ele nunca termina este trabalho, encontra-se estagnado dentro de mim e não consigo tirá-lo de meu corpo. E a cada martelada que se destina ao solo, me perfuram mais, numa martelada sem fim e sem fundo. Não há lugar por onde eu ande que me sinto tranqüila com meus pensamentos. Há sempre um barulho a romper a calma que as nuvens produzem. Há sempre algo à se olhar, um ruído à ser ouvido, um sol de rachar a pele e um odor de esgoto que chega ao nariz com tanta veemência que posso jurar que sinto o gosto desta cidade em minha boca. Um gosto de metal e clorofórmio fecal. E aquele parafuso gigante guiado por mãos tão pequenas me penetra insistentemente como uma graxa que não sai de nossas mãos. O céu que antes era azul me parece cinza, mas de um cinza sem cor, afogado no concreto e no fedor. É como se esse parafuso gigante arrancasse minhas víceras, mas nunca completasse seu trabalho. Há alguns anos pensei que essa agonia em algum momento pudesse ter fim, pensei que em algum lugar no tempo não fosse existir mais casas que pudessem ser derrubadas para dar lugar a uma serpente sem corpo e sem mola, mas sempre há algo a ser destruído para que alguma coisa com mais concreto, mais gente e mais barulho possa existir. Vamos espremendo-nos até que não sobre mais espaço para dar um peido, que agora fede mais por causa dos enlatados.


(Guernica - Pablo Picasso)

Paciência - Lenine

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não pára
Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora, vou na valsa
A vida é tão rara
Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando cada vez mias veloz
A gente espera do mundo e mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência
Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber, a vida é tão rara... tão rara
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não

domingo, 19 de agosto de 2007

A abelha, a formiga e a camila

Salvador Dali


Hoje olhei para minhas pernas e elas estavam cabeludas. Senti-me bem por ter as pernas cabeludas. Senti-me bem por não ter quem me diga que elas assim o estão. Algumas pessoas sentem a necessidade de dizer coisas que na verdade não precisam ser ditas pois são tão obvias que não precisam ser verbalizadas. Sei que minhas pernas estão cabeludas e não preciso que me digam o óbvio. Estou feliz com elas porque são minhas e faço delas o que bem entendo. Elas me permitem andar e isso basta.
Às vezes me dizem: “essa é a Camila que conheço”. Bem, eu vos digo, e como poderia não ser. Todas as camilas que vocês encontraram em todos os dias em que esbarraram comigo, como poderia não ser eu, a mesma camila. Um pouco diferente talvez se pensarmos como alguns filósofos que nos dizem que não só não podemos entrar no mesmo rio duas vezes, como não se pode entrá-lo sequer uma vez, já que, nem o rio nem nós mesmos seríamos a mesma matéria de alguns segundo atrás. Como diria Raul, uma metamorfose ambulante. Mas essa metamorfose que a cada segundo me torna uma nova pessoa, todas elas, sou eu. Esta que vês desnudam em sua frente. Pois não poderia ser outra coisa senão eu mesma. A de pernas cabeludas ou raspadas. A que às vezes está triste e a que fala putaria sem medir palavras e sem medo de ser julgada, pois ninguém que habite este planeta poderá me julgar pelo que sou ou pelo que deixo de ser.
Sinto-me bem aqui sentada em meio a tantas formigas que às vezes me atacam e provocam coceiras. Agora a pouco vi um duelo entre uma formiga e uma abelha. Formidável! Estava aqui sentada com meu livro quando ouvi um zunido que me chamou a atenção. Olhei para trás e procurei de onde vinha o barulho. Vi aqueles dois seres se atracando em meio à grama. Primeiro pensei que a abelha atacava a formiga, imaginei que ela fosse mais forte pois tinha asas. Mas abelhas não atacam formigas. Elas procuram flores, procuram mel. Não se preocupam com a mediocridade da formiga que se arrastam no chão e não tem asas. Pensei que a abelha venceria.
Não detive minha atenção por muito tempo com essas meticulosidades da vida e voltei-me para o livro que lia. Mais tarde vi aquela formiga carregando aquela abelha gigante que parecia ser mais forte. Que fantástico, a formiga havia vencido a batalha e carregava seu troféu como se estivesse embriagada, não conseguia carregar seu premio pois esta era muito pesada, mas não desistia.
Vinham em minha direção e resolvi interferir no processo. Não sei bem o porquê tomei tal atitude, simplesmente o fiz sem pensar, e empurrei a formiga e sua abelha que voaram longe, uma para cada lado, assim sem piedade. Não me retorci de remorso por ter separada a formiga de seu troféu que tão deveramente conquistara. Pensei apenas que a vida é assim. Uma cadeia alimentar sem propósito, e que por alguns instantes estou no alto dessa cadeia e me aproveito de tal situação.
Não me vejam uma pessoa má por isso caro leitor. Tenho certeza que em algum momento de suas vidas também tomaram atitudes drásticas e sem propósito de valores não muito nobre. Seria o mesmo que condenar uma formiga por ter matado uma abelha, e para que uma formiga atacaria uma abelha? seria inveja de suas asas. As formigas simplesmente comem vermes e atacam abelhas porque é de sua natureza, e não as julgo por isso. Também sou um animal, e muitas vezes não penso sobre minhas atitudes. Não me recordo bem agora, acho que foi Saramago quem disse que se fossemos pensar minuciosamente o que faríamos em cada situação de nossas vidas o momento teria passado e então não teríamos vivido e aproveitado a beleza de viver.
Confesso que sou puro instinto e sentimento, e poucas vezes sou racional. Eu sinto e acredito em meus sentimentos, não penso sobre eles, simplesmente reajo. Viver já é interferir no processo da vida, não há outra escolha. As formigas me incomodam e por isso de vez em quando as mato sem remorso. Às vezes as formigas me picam e deixam marcas, não as culpo por isso. A vida passa e preciso vivê-la. Seria o mesmo que exigir de um artista que ele saiba porque ele pinta, ele simplesmente o faz e isso basta, sentir uma obra de arte, é a isso que um artista se propõe e não podemos cobrar mais do que sua condição possa oferecer, basta apreciar. Agora me calo, pois como já disse, existem coisas que não precisam ser ditas, são óbvias demais para serem repedidas tantas vezes.

A Alma e o Baú

Tu que tão sentida e repetida e voluptuosamente te entristeces e adoeces de ti,
É preciso rasgar essas vestes de dó,
As penas é preciso raspar com um casco, uma
Por uma: são
Crostas...
E sobre a carne viva
Nenhuma ternura sopre.
Que ninguém acorra.
Ninguém, biblicamente, com seus bálsamos e olores
Ah, tu com tuas cousas e lousas, teus badulaques, teus ais ornamentais, tuas rimas,
Esse guizos de louco...
A tua alma (tua?) olha-te simplismente.
Alheia e fiel como um espelho.
Por supremo pudor, despe-te, despe-te, quanto mais nu, mais tu,
Despoja-se mais e mais.
Até a invisibilidade.
Até que fiquem só espelho contra espelho
num puro amor isento de qualquer imagem.
- Mestre, dize-me... E isso tudo valerá acaso a perda do meu baú?
(Mário Quintana)


(Salvador Dali: "The antropomorphic cabinet")


Tem razão minha amiga Natali. Nada valerá a perda de meu baú. Mas é preciso raspar com um casco as penas, para enfrentar esse mundo sem ternura. Obrigada por sua carta, obrigada mais ainda por sua presença que me permite ser sincera sempre, que aceita meus defeitos como uma virtude, e que me faz companhia nas noites de vinho. Mas não é qualquer companhia, é a tua. Não é o vinho que me faz rir, mas suas risadas. Sua sinceridade para com você mesma é que me permite ser sincera comigo sem culpa. Despida e sem pudor. Não podemos nos corromper, porque somos o que somos, e é isso que nos faz feliz. Somos imperfeição e aceitamos nossa condição como qualidades. Compartilhar com você esses dias é essencial, pois, me sinto completa e livre, e não é necessário mudar, vestir máscaras.



sábado, 11 de agosto de 2007

Olhando de cima aqui me vejo!


O que é essa luz na frente de sua cama, que a consome. Consome-a, e se deixa consumir para passar esse maldito tempo que a devora viva. É devorada pelos seus próprios erros. E o que deveria ser uma virtude escapa-se como um pecado. Será este seu maldito destino. A loucura que tudo vê mas se cala para não ser levada ao manicômio. É lágrima que corre solitária como a ti. Desta vez nem o tempo foi seu cúmplice. O fim é a única verdade, tudo acaba. E todo fim é corrompedor (corrompe dor, cor rompedor). Corrompe mais um ciclo que se vai pelo ralo. Sua única companhia é a luz em frente a sua cama. Está cansada, mas teme fechar os olhos para não ver a verdade a que próprio procura. Agora a incerteza é seu guia. E fechar os olhos é lembrar um passado que não foi belo. Chora porque as lágrimas são sua única certeza. A certeza de que está viva e é humana. Seguir adiante nunca foi tão difícil como agora. Ter que sorrir para esconder a verdade é sua maior dor. Não dorme porque sua mente é assassina. Que mata sua alma aos pouco. O tempo passou e lhe restou uma rosa seca, sem cheiro e sem cor. Escarra na carne que beija para negar um futuro certo. E não erra seus sórdidos desejos, a certeza do fim sem a possibilidade de um novo começo. Agora tem que dar passos para trás e voltar a ser como era, normal, pois não será aceita com tantas mudanças, e não quer mudar porque dói. E a maldita luz na frente de sua cama a consome para que não se consuma e definhe em sua própria dor.
(Quadro - Edgar Degas)

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

sexta-feira, 20 de julho de 2007

A Arte – Reflexões do Dia com Nilson Camizão

(la Grènouillère - Claude Monet )


Já me desculpo com os entendedores de arte se o que vos digo não passa de um monte de abobrinha, mas como humana tenho direito ao erro e numa democracia tenho direito de expressar minha opinião, que para mim parece bastante plausível .
Para que serve a arte? vos pergunto. E acredito que essa pergunta é feita por diversos filósofos, artistas, cientistas, e por nós meros mortais, que de uma maneira ou de outra experimentamos a arte, seja ao observar uma obra, ao ler um bom livro, ao escrever um poema, ou ao nos aventurar num desenho, numa pintura. Sinto-me no direito de dizer que a arte não pode ser explicada por um cientista, e que talvez um filósofo possa compreender seu sentido e seu significado para a vida humana. Para nós meros mortais, basta sentir, e acredito que nesse aspecto nos aproximamos dos artistas, pois tais, também sentem, porém vão além do que podemos imaginar, eles estudam técnicas, se aperfeiçoam, discutem arte, criam e recriam num processo que pode levar uma vida inteira até atingir a maturidade artística.
Para mim em particular, e para muitos que conheço, o processo que leva um grande artista a ser artista não está ligada somente a sua criatividade e sensibilidade, mas também, e principalmente, à sua capacidade de utilizar as técnicas e aprendizagem artística para recriar um novo contexto de se fazer arte com sua própria inspiração e muita, muita transpiração. É isso que aprendemos com a história dos grandes artistas. A arte tem um contexto, e os artistas participam desse contexto, discutem entre si, aprendem entre si. E para alcançar isso não basta estudar a história da arte, é preciso técnica e prática.
Infelizmente os artistas e a arte pós-moderna pensam diferente de mim, mostrando a arte apenas como um ímpeto criativo que não deve se amarrar a formas e técnicas, utilizando-se somente de sua criatividade e sensibilidade. Mas acreditem ou não a arte é ESTÉTICA, gostem ou não.
A arte não é só emoção e sentimento, também requer estudos, e não apenas um ímpeto rebelde de criar. Uma criação artística não leva um dia, um mês, ou um ano, leva-se uma vida, muitos anos de conhecimento, estudo e aplicação da arte, e isso que é apreendido em sua vida faz parte do processo criativo.
Numa reflexão com Camizão, um grande artista que tive o prazer de conhecer a alguns anos, revelou-se uma realidade que ainda não havia percebido.
- Nada mais contemporâneo do que esse lixo artístico com que nos deparamos nas galerias. Eles refletem justamente a crise desse mundo pós-moderno. De desarmonia com o mundo, com o corpo e com a mente, nesse emaranhado em que nos encontramos que não tem propósito. A Terra possui uma pulsação que vibra na mesma sintonia que nosso coração, é como se fossemos tudo a mesma coisa, a Terra é uma extensão de nossos corpos, e tudo que fazemos para agredi-la volta-se contra nós, não só na água poluída, mas numa sensibilidade intrínseca que possuímos de sentir o mundo na mesma sintonia do pulsar do coração, ainda não sabemos o que esse sentimento de caos que absorvemos significa, mas toda essa agressão que criamos é repassado e transmitido através da arte.
Eu rio.
- Mas é verdade!
- Rio pela ironia deste mundo. Quer dizer: nada mais contemporâneo do que esse lixo artístico! É desse mundo que eu faço parte, é desse processo de destruição que faço parte. Dessa loucura sufocante e agonizante que não tem sentido. Nesse mundo niilista, que é refletida nessa arte niilista. E a arte é um refugio e uma denuncia anônima, que não tem sentido para quem produz ou reproduz isso. A arte se torna uma válvula de escape em que expressamos essa agonia. Essa arte-lixo é uma denuncia de que o mundo está em crise, de que viver não tem sentido, que estamos destruindo a Terra assim como a nós mesmos.
E em minha agonia me pergunto, para que o mundo produz tanta arte? A arte é um refúgio da alma, não de uma alma divina, mas no sentido filosófico do que dá animo ao ser. Bem, poderia ser a religião, uma paixão, assim como pode ser a arte. Mas o prazer de viver da arte é somente para os que beiram a loucura, pois nada mais abstrato do que ela, você não sabe o porquê, mas ela te alimenta, te satisfaz e te completa. Não é como o amor, pois não te limita e não é como uma religião, pois não te dá uma resposta pronta. A arte é somente para os que beiram a loucura!

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Admirável Mundo Novo

Onde tudo é permitido. Menos a dor. Ocupamos-nos e nos relacionamos com o outro a todo o momento. Ou não. E renegamos o sentimento. Achamos-nos intocáveis. Inabaláveis. Deixar de lado todas nossas preocupações e mágoas para entregarmos-nos somente ao prazer. Só isto é válido. Fingir que está tudo bem. Estamos bem e nada nos atinge. Tentar esquecer o mais profundo de nossos pensamentos. A sensibilidade humana renegada em favor da razão. E neste processo tornamos-nos cada dia “menos humanos”. Ou humanos piores. Percebemos o universo como se tudo fosse possível. Que estamos sempre certo. O errado não existe. Tudo pelo prazer. A dor não é permitida. É só tomar a pílula mágica. Para dormir. Para comer. Para esquecer. Para lembrar. Esquecemos que a dor é tão fundamental quanto qualquer outro sentido. Faz parte do processo de humanização do ser. Não me sinto capaz de esquecer, fingir que não existiu, que não aconteceu. Os pensamentos ainda se remoem em minha mente. E negar isto é negar meu ser. Onde tudo no dia a dia passa tão rápido. Nossos sentidos se ocupam de tanta coisa que não podemos perceber. Outdoor. Carros. Panfletos. Cartazes. Buzinas. Propagandas. Televisão. Computador. E a cada ação inanimada do mundo o nosso corpo reage. E sem nos darmos conta dos excessos. Tornamos-nos frígidos. Os sentidos pelo qual nos relacionamos com outro ser humano, qual é o seu? As relações se tornam tão voláteis. Tudo é tão superficial e passageiro. E o sentimento? Algo que tanto prezo. Renegamos de nossas mentes. Como se não existisse. Não quero pensar nisto. Não quero sentir. Não quero dor. Não quero sofrer. Não quero morrer. Quero esquecer. Quero esquecer. Sou inatingível. Eu! Tudo é tão insólido. Insatisfeito. Breve. Esconder no fundo do baú nossos medos é fingir que somos super-heróis. Não a dor. Não ao medo. Não ao erro. Estamos sempre certo. E nessa certeza tudo se torna tão frágil quando descobrimos que outro jeito é possível. E o que era tão sólido se desmancha no ar com tanta facilidade. Vamos continuar em nosso pedestal. Porque temos medo de cair. E sou incapaz de reconhecer a nobreza de se levantar. Ficamos tão abitolados em nossa prepotência. Somos auto-suficientes. E nos enterramos em nosso próprio orgulho. Escondemos-nos em nossos casulos. Sem saber a beleza de voar. Sem perceber vamos atrofiando como ser humano. Medíocres, pequenos. Eu. Negando a própria fragilidade humana. Da carne. Do sangue. E isso é ser humano? Humano pós-moderno.


não sei

inspirada pelo blog de stella lira, minha queriada amiga, resolvi criar uma página pra mim! ainda não sei o que vou fazer por aqui, mas nos dias de inspiração vou postar minhas sórdidas idéias! aproveitem, ou não!

e assim eu vou caminhando contra o vento porque sou o avesso do avesso do avesso!