quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

chega - mart'nália



Pro dia do Samba!!!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Incenso fosse música



(Paulo Leminski)


isso de querer ser 
exatamente aquilo 
que a gente é 
ainda vai 
nos levar além

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Carlos Drummond de Andrade

PROCURA DA POESIA

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.







NÃO SE MATE
Carlos, sossegue, o amor 
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija, 
depois de amanhã é domingo 
e segunda-feira ninguém sabe 
o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para 
as bodas que ninguém sabe 
quando virão, 
se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você, 
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas, 
vitrolas,
santos que se persignam, 
anúncios do melhor sabão, 
barulho que ninguém sabe
de quê, 
pra quê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito 
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam. 
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos, 
mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá. 





O SOBREVIVENTE
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de 
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema.)

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Talking Heads - Psycho Killer

Primitiva

Camila Bravim, Cubismo primitivo em noite insone, 2009, pastel em vergê A4

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Todos os poemas cabem numa taça de vinho


Marc Chagall

domingo, 13 de setembro de 2009

Boliviana



Camila Bravim, Boliviana, 2009, pastel em folha A4

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Galo em Tela

Camila Bravim, O Galo Tela, 2009, pastel sobre tela

Esse aqui demorou quase dois anos pra ficar pronto, por deus como é difícil preencher uma tela com pastel, haja paciência, ele estava abandonado no quartinho e resolvi terminar... esse aqui é claro que foi pro meu professor, que inclusive tirou a foto para eu postar

Vou comprar tinta óleo e tela

Camila Bravim, Mulher Imperfeita e Inacabada, 2007, óleo sobre tela

Não posso negar que as correntes artísticas que mais gosto é o impressionismo e expressionismo e alguns meses atrás por tê-los como referência ficava muito insatisfeita com meus desenhos porque eu não conseguia atingir o patamar de Van Gogh e Monet... mas what the hell... hoje em dia fico satisfeita em me expressar artisticamente. Sempre converso com Léo meu professor de desenho sobre a minha dificuldade com luz e sobra e perspectiva no desenho e coisa e tal... ai ele vem e me diz que é muito fácil e começa a desenhar e mostrar como é numa rapidez admirável (sempre viajando no desenho) – é assim ta vendo – ah sim claro to vendo –  mas o que pra ele é tão claro e fácil eu preciso de um esforço tremendo... antes de tentar vestibular eu trabalhava em uma escola de arte (bons tempos, um ano inesquecível) e lá convivi, conheci, tive contato e soube da existência de artistas plásticos que admiro bastante como Camizão, Nízio, Choudane (acho que é assim que escreve), Tião Fonseca e desenhistas exímios como Léo e tantos outros alunos que ele tinha que na primeira aula já desenhavam com uma facilidade invejável.... ver seus quadros e desenhos sempre me colocava num lugar de não artista... um dia o Nízio perguntou para que eu iria prestar vestibular e lhe respondi que seria Ciências Sociais e ele se admirou por não tentar Artes Plásticas mas eu não me sentia artista... pois bem... quatro anos depois de faculdade de sociologia, antropologia e ciências políticas me deixaram extremamente cética com o mundo é que tenho uma sensibilidade excessiva e ver as dores e falhas do mundo acabaram por me consumir – nothing is gonna change my world certo – ai criei um blog que a princípio era pra colocar minha posição política ou artigos acadêmicos e etc e tal... ai o trem desandou e deu nesse blog aqui que não tem nada de acadêmico... o engraçado é que só comecei a escrever contos e poesias depois de criar o blog e as artes de uma maneira geral passaram a me interessar mais que a vida acadêmica e ai pronto... caos... acho que não é a toa que minha afinidade seja com o impressionismo e expressionismo, essas pinceladas bem marcadas, um tanto caóticas, mas que no conjunto dá certo, principalmente se ver de longe, e de perto vê-se a riqueza de detalhes, as cores fortes, as pinceladas grotescas e no final um realismo em movimento, um quadro inacabado numa bela moldura... já me conformei, não serei um Van Gogh nem Monet nem Renoir... talvez a falta de perspectiva seja o meu lance sabe, como em Frida Kahlo... desde que não seja algo tosco (detesto essa vanglorização da tosqueira na arte, para mim soa mais como desleixo, preguiça e falta de técnica)... vai que quando eu morrer um quadro meu não venha a ser reconhecido... não é assim que funciona?... aos meus amigos peço que guardem meus rabiscos bem direitinhos... sei de minhas dificuldades em pintar e desenhar, mas como eu não consigo mais viver sem me expressar artisticamente, seja de que forma for, serei sempre persistente... e vou te dizer... há quem goste!! às vezes corre o risco de até eu gostar

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Galo

Galo, 2007, pastel em folha A4
meu primeiro desenho que deu certo ficou assim. sob a orientação de Léo Sá, meu professor de desenho que por amizade eu não pago um tostão, ele finge que ensina e eu finjo que aprendo (brincadeira léo, vc me ensinou o valor da perfeição, pena que não aprendi direito, mas se não fosse por vc não sairia nada dessa mão torta). tenho uma vontade tremenda de voltar a ter paciência pra desenhar, quem sabe num dia de férias. o desenho dei pra quem me deu o estojo de pastel, que agora está aposentado e empoeirado

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Em face dos últimos acontecimentos

(Carlos Drummond de Andrade)

Oh! sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
que o nosso avô português?
Oh! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros
sejamos tudo que quiserem,
sobretudo pornográficos.
A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).
Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
fosse a última resolução.
Não compreendem, coitados,
que o melhor é ser pornográfico.
Propõe isso ao teu vizinho,
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
e à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
não quereis ser pornográficos?

nat... adoro esse poema... e sempre que leio lembro de você recitando ele em sua casa.... muito bom

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Você não entende nada/Cotidiano



ps: se chico buarque pode errar a entrada da música eu também posso

você não entende nada

Composição: Caetano Veloso
Intérprete: Chico Buarque

Quando eu chego em casa nada me consola
Você está sempre aflita
Lágrimas nos olhos, de cortar cebola
Você é tão bonita
Você traz a coca-cola eu tomo
Você bota a mesa, eu como, eu como
Eu como, eu como, eu como
Você não está entendendo
Quase nada do que eu digo
Eu quero ir-me embora
Eu quero é dar o fora
E quero que você venha comigo
E quero que você venha comigo
Eu me sento, eu fumo, eu como, eu não aguento
Você está tão curtida
Eu quero tocar fogo neste apartamento
Você não acredita
Traz meu café com suita eu tomo
Bota a sobremesa eu como, eu como
Eu como, eu como, eu como
Você tem que saber que eu quero correr mundo
Correr perigo
Eu quero é ir-me embora
Eu quero dar o fora
E quero que você venha comigo
E quero que você venha comigo
E quero que você venha comigo
E quero que você venha comigo
E quero que você venha comigo

cotidiano

Composição: Chico Buarque
Intérprete: Caetano Veloso

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã
Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pr'o jantar
E me beija com a boca de café
Todo dia eu só penso em poder parar
Meio-dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida prá levar
E me calo com a boca de feijão
Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca prá beijar
E me beija com a boca de paixão
Toda noite ela diz pr'eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pr'eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Não Adianta - Sérgio Sampaio


Não Adianta
(Sérgio Sampaio)

Não adianta,
Não adianta nada ver a banda,
Tocando “A Banda” em frente da varanda,
Não adianta o mar,
E nem a sua dor.

Não adianta,
Não adianta o bonde, a esperança,
E nem voltar um dia a ser criança,
O sonho acabou,
E o que adiantou?

Não tenho pressa,
Mas tenho um preço,
E todos tem um preço,
E tenho um canto,
Um velho endereço,
O resto é com vocês,
O resto não tem vez.

O que importa,
É que já não me importa, o que importa,
É que ninguém bateu em minha porta,
É que ninguém morreu,
ninguém morreu por mim.

Não quero nada,
Não deixo nada, que não tenho nada,
Só tenho o que me falta e o que me basta,
No mais é ficar só,
Eu quero ficar só.

Não adianta,
Não adianta, que não adianta,
Não é preciso, que não é preciso,
Então pra que chorar?
Então pra que chorar?
Quem está no fogo, está pra se queimar,
Então pra que chorar?

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Auguste Rodin



Auguste Rodin -La Danaïde. 1885

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Auguste Rodin

Auguste Rodin - Andromeda

terça-feira, 28 de abril de 2009

Auguste Rodin

Auguste Rodin - Torso de Adèle (1882).

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Gustav Klimt - The tree of life - 1909
20 anos recolhidos

chegou a hora de amar desesperadamente
apaixonadamente
descontroladamente
chegou a hora de mudar o estilo
de mudar o vestido
chegou atrasada como um trem atrasado
mas que chega

(Chacal)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Quase diário fantasiado pelo alterego ou Diálogo tentando conciliar id e superego

É tudo que eu preciso, um papel, uma caneta e um cigarro. Daí me lembro do aeroporto de São Paulo, e toda aquela nostalgia barata de ter viajado. Aquele sol aquecendo o corpo, nada além do corpo, e eu empenhada em fumar um cigarro, um desejo de um abraço e nada a minha frente (ou tanto concreto que chegava ao nada). Talvez um pouco mais pragmática. A objetividade é extremamente necessária aos loucos que se perdem tão fácil na dura realidade. Restaram lembranças, nada além de lembranças e meu corpo, com aquele cigarro barato que além de nostalgia me provocava náusea. De me empenhar a fumar, foi o que restou das lembranças de saber que sou latina. Latida, latente. Agora vou aprender a cantar. Quem canta não pode ser infeliz. Serei uma a(u)(r)tista completa, me aventurei nas artes práticas, escrita, e agora canto. Só na arte do amor é que me fodo. Mas também não dá pra ter tudo na vida, sou uma boa jogadora de buraco, e sabe como dizem: “sorte no jogo, azar no amor”. Lá se vai mais um com o coração partido. Não, espere! Aquele ali é um espelho. Pra cada dedo indicador apontado, outros três apontam pra você mesmo. É mais fácil amar uma ilusão do que a dura realidade. Sou a desengonçada tentando eternamente ajeitar a vida, não por opção, mas por não saber lidar com o cotidiano dos bancos mercenários, do concerto das máquinas, da burocracia de ser empregada, das monografias desafinadas, e por ter perdido metade da minha memória no meio do caminho (desmesmoriada por genética). Não sou lésbica, não sou puta, não sou drogada, mas por me simpatizar com eles e talvez respeitar tudo isso, acabo me tornando um deles. Deslocada do mundo que exige um pragmatismo que não consigo alcançar por ser desengonçada. Voltando ao aeroporto de São Paulo, tudo se resume ali, naquele sol e eu sozinha esperando algo que não sabia bem o que e como viria. Veio. Veio a vida é claro, inevitável. Estava voltando pra casa de um mês de viajem pela américa latina e tudo voltaria a ser como antes. Ter a liberdade tão desejada por todos não é fácil, carregar a cruz dos outros nunca é fácil, extravasar a loucura dos outros nunca é fácil (mas o mundo precisa de Jesus Cristo). Queria ser normal, já se foi, alguma coisa perverteu meu caminho, acho que ainda na barriga de minha mãe. Não quero ser hedonista, quero respeitar meus limites. Mas no aeroporto de São Paulo eu podia sentir que tudo era possível. E sempre restam lembranças. Não sei acabar este texto, porque a vida continua, e por ser demasiado pessoal, eu continuo a vida, meus amores insensatos, minha constante busca por pragmatismo, minha monografia interminada e eu aqui na fila do banco esperando horas pra ser atendida pra poder pagar minhas dividas. Minha senha chegou, levanto atordoada, catando caneta e papel e procurando meus óculos pra saber qual mesa deveria me dirigir. A moça atrás do balcão me sorri simpática e eu descomposta, meu caso não é tão grave assim. Mas eu agoniada: “fecha tudo moça, encerre todas as minhas contas” – ela ri. Eu definitivamente não sei mexer com isso. Por vezes perco minha caneta em meu cabelo e saio a procurar – “onde está a caneta que estava agora pouco aqui meu deus, me ajuda a procurar” – pra meia hora mais tarde encontrá-la prendendo meus cachos que agora não são mais tão cacheados assim. Tudo bem eu assumo minha culpa, mas tenho pavor de quem não assume a própria culpa, nada mais covarde. E agora eu tenho que carregar minha casa em minha bolsa por ter que passar o dia inteiro resolvendo pepino (quem inventou essa gíria?), mas tudo bem, eu sobrevivo à pão na chapa. Só preciso de um papel, uma caneta (e agora um cigarro) pra reinventar meu mundo.

Renoir

Renoir

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Kurt Gebauer

Girl Running - Kurt Gebauer

Eu tenho uma teoria: quem canta não pode ser infeliz


IANSÃ
Intérprete: acho que é uma tal de Rita Ribeiro
Compositor: Gilberto Gil e Caetano Veloso
ps: prefiro a versão de Maria Bethânia no disco Drama, mas não tinha no youtube.
"Para onde vai a minha vida e quem a leva?
Porque eu faço sempre o que não queria?
Que destino contínuo se passa em mim na treva?
Que parte de mim, que eu desconheço, é que me guia?"

Senhora das nuvens de chumbo
Senhora do mundo dentro de mim
Rainha dos raios, rainha dos raios
Rainha dos raios, tempo bom, tempo ruim
Senhora das chuvas de junho
Senhora de tudo dentro de mim
Rainha dos raios, rainha dos raios
Rainha dos raios, tempo bom, tempo ruim
Eu sou o céu para as tuas tempestades
Um céu partido ao meio no meio da tarde
Eu sou um céu para as tuas tempestades
Deusa pagã dos relâmpagos
Das chuvas de todo ano
Dentro de mim, dentro de mim

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Portinari


Candido Portinari

sexta-feira, 6 de março de 2009

Vinícius de Moraes - Sonetos

EPITÁFIO

Aqui jaz o sol
Que criou a aurora
E deu luz ao dia
E apascentou a tarde

O mágico pastor
De mãos luminosas
Que fecundou as rosas
E as despetalou

Aqui jaz o sol
O andrógino meigo
E violento, que

Possuiu a forma
De todas as mulheres
E morreu no mar


SONETO DE FIDELIDADE

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvou hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


SONETO DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada

Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada

Porque te vi nascer de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura

Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e eu dado-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura


O VERBO DO INFINITO

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor, nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir pra poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...


SONETO AO CAJU

Amo na vida as coisas que têm sumo
E oferecem matéria onde pegar
Amo a noite, amo a música, amo o mar
Amo a mulher, amo o álcool e amo o fumo.

Por isso amo o caju, em seu resumo
Esse materialismo elementar
Fruto de cica, fruto de manchar
Sempre mordaz, constantemente a prumo

Amo vê-lo amarrado ao cajueiro
À beira-mar, a copular com o galho
A castanha brutal como que tesa:

O único fruto – não fruto – brasileiro
Que possui consistência de caralho
E carrega um culhão na natureza.


Moraes, Vinícios de, 1913-1980. Livro de Sonetos. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

ps: odeio os gênios porque eles me fazem sentir tão medíocre... mas amo ler suas poesias.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Frida Kahlo

Frida Kahlo - Roots, 1943

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Nouvelle Vague - Melt with you


Moving forward using all my breath
Making love to you was never second best
I saw the world thrashing all around your face
Never really knowing it was always mesh and lace
I’ll stop the world and melt with you
You’ve seen the difference and it’s getting better all the time
There’s nothing you and I won’t do
I’ll stop the world and melt with you
Dream of better lives the kind which never hate
Dropped in the state of imaginary grace
I made a pilgrimage to save this humans race
Yes I did
What I’m comprehending a race that long gone bye
I’ll stop the world and melt with you
You’ve seen the difference and it’s getting better all the time
There’s nothing you and I won’t do
I’ll stop the world and melt with you
The future’s open wide
I’ll stop the world and melt with you
You’ve seen the difference and it’s getting better all the time
There’s nothing you and I won’t do
I’ll stop the world and melt with you, yeah
I’ll stop the world and melt with you
I’ll stop the world and melt with you, yeah, yeah

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Ao caos do umbigo do mundo

Cusco- Peru


Cusco - Peru

Sucre - Bolívia


Potosí - Bolívia

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Fronteras clandestinas

(Lago Titicaca - Copacabana/Isla del Sol - Bolívia)



(Miraflores - Potosí - Bolívia)