Dividiu-se o mundo, a vida, o ego, a alma e você em dois opostos. Uns do lado direito, ou leste, ou norte, outros do lado esquerdo ou oeste ou sul. Colocaram-se os sentimentos, as qualidades, os defeitos, o mundo, o espírito, o inexplicável, o amor, o ódio, o belo, o feio, o bom e o ruim diante de uma corda de cabo de guerra. Cada qual escolheu um lado, e no meio, milimetricamente medido por alguém ou alguma coisa, marcaram uma linha que dividia o preto e o branco, o masculino e o feminino, a terra e o ar, o frágil e o bruto, a leveza e o peso, a sanidade e a loucura. Depois de todos estarem cada qual em seu devido lugar, alguém ou a coisa que marcou o meio da corda deu o sinal de que o cabo de guerra postasse a começar. Medindo forças, cada qual começou a puxar para seu lado. E a corda se movia para lá e para cá, para cima e para baixo. Às vezes o leste perdia forças e era carregado pelo oeste, assim vice-versa. E dançavam como uma sinfonia de Beethoven. Ora clamo e sereno como uma valsa, ora frenético e perturbador. Numa briga de galos sem fim, em que nenhum lado perdia.
O homem ou a coisa que marcou a linha no meio da corda havia se esquecido de marcar o lugar em que tal linha deveria se encontrar para que algum dos lados se tornasse vencedor ou perdedor. Esqueceu de marcar onde a linha deveria tanger para o fim dessa disputa que se prolonga por dois mil e quinhentos anos. Ora a esquerda estava mais forte fazendo com que a direita se arrastasse para seu lado, assim vice-versa. E continuavam a disputa, exaustos, fartos de toda aquela briga sem lógica e sem fim. Porém, nenhum lado cedia à vitória ou à derrota.
Ansiavam então para que a corda se rompesse e ao menos houvesse um empate, mas a corda era de aço e não arrebentava. As mãos já cansadas sangravam de agonia, mas não era permitido que nenhuma dicotomia pudesse desistir. Era, e é, inadmissível desistir. E por mais que quisessem não saberiam como, suas mãos se viam grudadas na corda de aço. Não saberiam como tirar as mãos da corda, não saberiam o que fazer de suas vidas a não ser puxar para lá e para cá, para cima e para baixo, condenados eternamente neste cabo de guerra. Não teriam o que fazer, não saberiam o que fazer, a não ser segurar a corda com toda força e puxar.
Rangiam dentes, transpiravam, suavam lágrimas salgadas, mas não largavam a corda. Ambos imaginavam que a que a solução seria a corda arrebentar. Isto os livraria do peso da derrota e da leveza da vitória, os livrariam do peso da vida e da leveza da vida. Salvá-los-iam de suas agonias, medos e exaustão. Mas a corda era de aço e não arrebentaria por mais que puxassem por mais dois mil e quinhentos anos. Somente a coisa ou o homem que marcou o meio da corda poderia decretar o fim do jogo. Porém este adormecia mais do que se punha acordado. E quando acorda se punha a beber vinho e se entregar a orgias. Às vezes olhava o cabo de guerra com a boca farta de pão, mas não pensava sobre a solução de tal desastre. Não sabia que cabos de aço não arrebentavam em jogos de cabos de guerra. E não sabia que deveria marcar o fim em que o meio da corda deveria chegar. Então, voltava a dormir e esperar pelo grande dia em que anunciaria a vitória de algum lado sem se preocupar se o norte e o sul se deglutiam em algum lugar do espaço ou dentro de mim.
Ansiavam então para que a corda se rompesse e ao menos houvesse um empate, mas a corda era de aço e não arrebentava. As mãos já cansadas sangravam de agonia, mas não era permitido que nenhuma dicotomia pudesse desistir. Era, e é, inadmissível desistir. E por mais que quisessem não saberiam como, suas mãos se viam grudadas na corda de aço. Não saberiam como tirar as mãos da corda, não saberiam o que fazer de suas vidas a não ser puxar para lá e para cá, para cima e para baixo, condenados eternamente neste cabo de guerra. Não teriam o que fazer, não saberiam o que fazer, a não ser segurar a corda com toda força e puxar.
Rangiam dentes, transpiravam, suavam lágrimas salgadas, mas não largavam a corda. Ambos imaginavam que a que a solução seria a corda arrebentar. Isto os livraria do peso da derrota e da leveza da vitória, os livrariam do peso da vida e da leveza da vida. Salvá-los-iam de suas agonias, medos e exaustão. Mas a corda era de aço e não arrebentaria por mais que puxassem por mais dois mil e quinhentos anos. Somente a coisa ou o homem que marcou o meio da corda poderia decretar o fim do jogo. Porém este adormecia mais do que se punha acordado. E quando acorda se punha a beber vinho e se entregar a orgias. Às vezes olhava o cabo de guerra com a boca farta de pão, mas não pensava sobre a solução de tal desastre. Não sabia que cabos de aço não arrebentavam em jogos de cabos de guerra. E não sabia que deveria marcar o fim em que o meio da corda deveria chegar. Então, voltava a dormir e esperar pelo grande dia em que anunciaria a vitória de algum lado sem se preocupar se o norte e o sul se deglutiam em algum lugar do espaço ou dentro de mim.