segunda-feira, 19 de maio de 2008

Dois poemas em Um

Monet - On the Beach 1873; Musée d'Orsay, Paris



(



Monet Painting in His Floating Studio 1874; Bayerische Staatsgemaldesammlungen, Munich

Poema em Linha Reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Vincent Van Gogh - Cafe Terrace at Night




Marlos,
Tudo que é bom e perfeito de se dizer já foi escrito
Todos os sentimentos intraduzíveis,
foram declamados por grandes poetas
Não há mais nada a ser feito ou dito
Nos sobrou as conversas de boteco
Ainda assim,
podemos apreciar belas paisagens e poemas,
ainda podemos nos mo-ver em quadros em movimento.
Ainda que,
Tudo que exista e não possa ser explicado
tenha sido articulado por atrevidos poetas.
Então façamos silêncio.
Vamos versar nosso deslumbramento.
Vamos nos calar e contemplar
As ondas e os barcos em sua tranqüilidade e risíveis movimentos.
Vamos apreciá-los enquanto não se encontram em molduras
.

5 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

quanto ainda do acontecido e não resolvido...
o desejo inócuo já despido...
a levesa de um ser retraido...
ao enxergar o que não se vê mesmo na transparência do vidro..

não entendo não explico, escrevo pq sinto!!!

Beijo!!!

Nós disse...

i love you baby, so much!

Camila Bravim Silveira disse...

me too baby

Cami Silveira disse...

tiago!
quem diria que por trás de tanta objetividade havia tanta poesia!
;)