domingo, 19 de agosto de 2007

A Alma e o Baú

Tu que tão sentida e repetida e voluptuosamente te entristeces e adoeces de ti,
É preciso rasgar essas vestes de dó,
As penas é preciso raspar com um casco, uma
Por uma: são
Crostas...
E sobre a carne viva
Nenhuma ternura sopre.
Que ninguém acorra.
Ninguém, biblicamente, com seus bálsamos e olores
Ah, tu com tuas cousas e lousas, teus badulaques, teus ais ornamentais, tuas rimas,
Esse guizos de louco...
A tua alma (tua?) olha-te simplismente.
Alheia e fiel como um espelho.
Por supremo pudor, despe-te, despe-te, quanto mais nu, mais tu,
Despoja-se mais e mais.
Até a invisibilidade.
Até que fiquem só espelho contra espelho
num puro amor isento de qualquer imagem.
- Mestre, dize-me... E isso tudo valerá acaso a perda do meu baú?
(Mário Quintana)


(Salvador Dali: "The antropomorphic cabinet")


Tem razão minha amiga Natali. Nada valerá a perda de meu baú. Mas é preciso raspar com um casco as penas, para enfrentar esse mundo sem ternura. Obrigada por sua carta, obrigada mais ainda por sua presença que me permite ser sincera sempre, que aceita meus defeitos como uma virtude, e que me faz companhia nas noites de vinho. Mas não é qualquer companhia, é a tua. Não é o vinho que me faz rir, mas suas risadas. Sua sinceridade para com você mesma é que me permite ser sincera comigo sem culpa. Despida e sem pudor. Não podemos nos corromper, porque somos o que somos, e é isso que nos faz feliz. Somos imperfeição e aceitamos nossa condição como qualidades. Compartilhar com você esses dias é essencial, pois, me sinto completa e livre, e não é necessário mudar, vestir máscaras.



Um comentário:

Anônimo disse...

Eu te amo! Queria dizer isso a um tempo, mas tinha medo de ser mal interpretada, mas agora posso, sei já já entende o que nos une e nos transforma. Te amo!