terça-feira, 13 de julho de 2010

Aos trinta: a vida é um clichê

Completar trinta anos não era um problema, mas sim o fato de estar preso em uma cidade que não gostava, em um emprego que não gostaria de exercer até o fim de minha vida, e que morreria só em um bar com um copo de whisky ou dreer, dependendo de minhas condições financeiras, pela minha incapacidade de conviver com outro ser humano que me pareciam mais vis do que eu. Não sei por que isso me toma a mente por esses dias, só pude concluir que é porque resta um mês para completar trinta, nunca havia perdido um minuto se quer de minha vida para refletir sobre minha desprezível existência, sempre achei uma perda de tempo planejar meu futuro, ou arrepender-se do passado, mas sentia uma necessidade de urgência de que algo extraordinário me ocorresse.

Os dias sucediam-se iguais, tudo dentro da normalidade, café e jornal na segunda-feira, filme às terças, futebol na televisão na quarta, uma cerveja com os colegas de trabalho em um boteco da esquina na quinta, e na sexta me reservava ao meu quarto para ler um livro, revista, ver TV, ou arrumar a gaveta de meias, cuecas e gravatas que usaria uma vez ao ano em um casamento ou batizado que as pessoas insistiam em me convidar por educação, ou talvez porque me achassem muito solitário e isso me faria bem. Voltando as meias, todas elas eram organizadas meticulosamente, enroladas em pares e empilhadas em ordem degrade, as gravatas eram estendidas num cabide e cuecas colocadas em ordem de uso. Não que isso fosse algo que importasse, como se eu somente usasse as cuecas da segunda numa segunda-feira e nunca na quinta, via neste sistema de arrumação apenas uma maneira de passar o tempo. Os sábados e domingos não tinham planos, eram aleatórios, mas nada fora de um padrão. Nem todas as semanas seguiam exatamente assim, não me importava em sair da rotina quando o destino assim quisesse, mas se fosse para contar meus dias, seria perfeitamente normal que os descrevesse desta maneira.

Não sei se já disse que moro só, há necessidade de dizer? Se sim, então ai está, moro sozinho num apartamento no centro da cidade, um quarto, uma sala, uma cozinha, um banheiro, área de serviço, prédio de três andares, sem elevadores ou garagem, nada de luxo, mas para mim bastava. Professor de português, decidi por conta própria que só trabalharia pela manhã e à tarde, gosto de minhas noites livres, não era de todo mal ser professor, mesmo que tenha sido empurrado para esse profissão por uma vaga no mercado. Antes mesmo de me formar já consegui umas aulas aqui e acolá, a grana era razoável, mas para um menino de 21, sentia-me o homem mais rico do mundo. Formei, e a quem vamos enganar, bacharel em português, a onde? Não havia mais tempo de desistir, fazer engenharia, direito ou medicina, talvez algum curso técnico, a área de informática me parecia promissora, mas eu ainda cultivava a nostalgia da maquina de escrever que meu pai me deu quando vim pra capital fazer letras, no início do século XXI confesso que ainda não tinha um computador, por deus, como iria me enveredar para área de informática, não fazia sentido. Quando não se há opção, o melhor é seguir como está, e lá se passaram nove anos. Um mês para completar trinta, só pode ser por isso o lampejo de não ter feito nada de importante até ali.

2 comentários:

Rodrigo disse...

Tô curtindo essa sua onda... espero que não pare.
Dá uma lida nisso:
http://brunobandido.wordpress.com/2010/06/28/a-minha-natural-habilidade-de-ir-embora-sem-me-despedir/

É de um blog que acompanho... não sei porque lembrei de ti.
Ah, eu sempre lembro.
Bjo!

Cami Silveira disse...

que bom que gostou ro, queria mesmo a sua opinião
ainda tenho mais 2 textos prontos, e pretendo que virem 10 ou quantos forem necessários pra achar um fim,rs
bjbj